quinta-feira, 17 de junho de 2010

Garoto de rua quer virar doutor

Esse texto é uma matéria que eu escrevi para o jornal laboratório do UniCEUB Esquina. Espero que gostem!

“Sou um garoto de rua. Sei que não tenho valor. Se você me ajudar, prometo ser doutor”, canta uma voz aguda e infantil na Rodoviária de Brasília. Ela pertence a Jhonata Ferreira da Silva, 9 anos. A letra é uma parceria dele com os irmãos, e fala sobre a condição atual em que vivem e que querem ir à escola para ser alguém na vida. A mãe, Nelcida Mendes da Silva, 54, está ao lado sentada em uma cadeira e assistindo a apresentação dos filhos. “Viemos tentar ganhar a vida”, disse ela com uma expressão de esperança e tristeza ao mesmo tempo.
O trabalho dos garotos é a principal fonte de dinheiro. “Meu marido veio para cá antes de nós e trabalhava como catador de frango. Mas teve que sair porque o patrão não assinava carteira e também porque teve hérnia. Eu também sou doente”, afirmou Nelcida.
Jhonata é o que mais chama atenção do grupo, que é formado por ele e os irmãos, que são gêmeos, Clebe e Cleiton Ferreira da Silva, 15. Baixo, voz fina, pele morena, cabelo encaracolado e com o microfone nas mãos, solta a voz para todos que estão no local o ouçam. “Canto desde os 8. Gosto disso porque daí posso ajudar meus pais”, disse segurando um salgado de presunto e um copo de coca. Era a primeira refeição que fazia no dia. Ao ser perguntado o que queria ser quando crescer, responde: “doutor”.
O menino freqüenta uma escola pública perto de onde mora. Entra às 7 horas e sai às 10. “Gosto de português por causa dos quadrinhos que têm no livro”. De lá, vai para o local de trabalho. Já é a sexta vez que estão na rodoviária. Com a ajuda dos ouvintes, conseguiram arrecadar 400 reais até agora. “É com isso que compramos comida e roupas para os garotos virem aqui se apresentar. Pagamos também o aluguel desse sonzinho que você está vendo. Mas o objetivo mesmo é poder comprar um teclado profissional para eles que custa 1800 reais”, contou o pai, Raimundo Nonato Ferreira da Silva, 56.
Apesar do pouco tempo que sobra, Jhonata consegue ainda ter energia para brincar. “Saio daqui umas duas horas. ‘Chego em casa’, descanso um pouco e vou jogar bola”. Disse também que a leitura preferida dele é a Turma da Mônica. “O que eu mais gosto é o Cebolinha”, falou sorrindo.
O garoto e a família vieram de Campo Maior, Piauí, e já estão pela cidade há 6 meses. Moram em Santo Antonio do Descoberto de favor. “Não temos nada. Tudo o que tem dentro da casa é do dono. Dormimos no chão, mas já estou acostumada”, afirma Nelcida mostrando a conta de luz com o endereço e o telefone. Quando chegaram, foram à rádio pedir ajuda. Foi então que apareceu Messias e ofereceu o barraco para a família. Lá moram ao todo 9 pessoas.
As pessoas que ouviam a cantoria estavam gostando. De tempo em tempo, o pessoal ia à frente e depositava dinheiro no pequeno balde que estava no chão. Quando enchia, a mãe se abaixava agradecida para recolher o que tinha sido colocado lá dentro. “É a segunda vez que ‘vejo eles’ por aqui. São muito bons. São os talentos escondidos do Brasil. Infelizmente falta dinheiro e patrocinador. Se tivessem, com certeza iam explodir. Vou orar para que isso aconteça”, afirmou a espectadora Maria das Graças Pereira. Várias pessoas da platéia paravam os repórteres do jornal Esquina elogiando os garotos e pedindo que os ajudassem. “Vão escrever sobre isso? Eles merecem”.

3 comentários:

Adriana Cordeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriana Cordeiro disse...

Interessante ver como o exodo rural, ainda nos dias de hoje, e' uma constante no Brasil. Imagino que nao seja facil tomar a decisao de deixar para tras suas raizes, cultura e relacionamentos em busca de melhores condicoes para sobreviver.
Parabens pela reportagem, Victor! Uma boa analise critica social nos faz rever conceitos e pensar na nossa obrigacao como agentes tranformadores.
Agora nos resta torcer para que Jhonata se torne doutor, ou quem sabe, siga a carreira musical junto com os irmaos. (:

By: Adriana Cordeiro

Unknown disse...

Nossa muito interessante essa matéria sobre os pequenos artistas da rodoviária...
Há tantos talentos espalhados pelas ruas e tão pouco valorizados. Além disso, vc ainda mostra a migração, que ainda existe, dos outros estados para bsb..acreditando num futuro melhor aqui. E será que realmente encontram um futuro/presente melhor??
ps: cometário de luiza vaz
PS: vc ilustra muito bem a situação no momento da apresentação deles. Me senti uma espectadora!hehhe