sábado, 9 de outubro de 2010

Aborto: afinal, quem é o próximo?



Nessa última semana tive vários debates sobre aborto, e apenas um foi de qualidade. Quero deixar bem claro que sou contra o aborto. Mas, infelizmente, nós cristãos temos a mania de fecharmos questão sobre as coisas sem antes pensar. Então resolvi escrever esse texto para colocar um pouco de pimenta na discussão. Talvez o que vou dizer seja contraditório com a negação feita por mim no começo deste texto. Eu ainda estou em processo de ponderação. Não sei o que achar.

O argumento mais usado pelas pessoas que são a favor do aborto é: “a mulher faz o quer com seu corpo. Isso é democracia”. Porém, eu vejo muita contradição nisso. O bebê não é mais corpo da mulher. Sim, está interligado com ela, mas é um ser vivo diferente com cabeça e membros próprios. Pode parecer um pouco frio e desumano o que vou falar, mas, de certa forma, estar grávida é criar um parasita dentro de si. Ele precisa dos nutrientes da mãe para sobreviver, porém não é ela.
Outro equívoco é: o que tem de democrático nisso? Desde quando democracia é sinônimo de “faça o que quiser”? Se assim fosse, não teríamos lei. Outro detalhe, o que impede governos ditatoriais de legalizarem o aborto? Como pode a democracia conviver com autoritarismo?

Vamos para o segundo argumento mais comum, o de que países desenvolvidos já descriminalizaram a interrupção da gravidez e que, por isso, eles são mais evoluídos. Sério. Qual a ligação entre as coisas? Porque tamanha “síndrome de vira-lata”? Então quer dizer que por serem ricos, eles são melhores? E desde quando a legalização tem a ver com evoluir? Então quer dizer que se eu concordo com a ideia de que garotas e garotos podem sair por aí transando loucamente e, caso a criança venha, tirar a vida dela ,eu sou para frente? Assim o seria se eu tomasse as devidas precauções ou assumisse valores que impeçam isso acontecer.

Entretanto, ao conversar com a Isabela (@belinha_moura), foram postos em pauta alguns pontos sobre os quais eu não tinha parado para pensar. Ela argumentou assim: “E se caso a gravidez ponha em risco a vida da sua mulher? Quem você escolheria: o feto ou a sua esposa? E se o bebê for acéfalo? E casos de estupro? O aborto deve ser descriminalizado, e não banalizado”. Admito que de primeira falei para mim mesmo que ainda era contra. Mas, questionamentos começaram  vir à minha cabeça. Ora, vamos caso por caso. Não fecharei questão sobre nada. Apenas farei questionamentos. Por favor, imagine que cada caso é contigo. Seja sincero.
1)       
      Gravidez de risco.
Você e sua mulher provavelmente têm uma grande história juntos. Certo dia, ela engravida. Festa para lá, festa para cá. Todos estão contentes. Até o dia em que se descobre que o parto pode pôr a vida da sua esposa em risco, e ela já está de quatro meses e meio. O que fazer? Abrir mão da pessoa que você mais ama (espera-se que seja assim) ou a criança que nem nascida é? Teria o sangue-frio de manter a gravidez por tanto tempo sabendo que, logo depois, a pessoa que mais sofreu com tudo isso vai morrer? Será que é pecado escolher pela vida da sua mulher? Se sim, por quê? Não seria uma tortura psicológica para todos?
Anencefalia
Você e sua mulher finalmente conseguem ter uma criança. Mas, ao fazer o exame, descobrem que o feto sofre de anencefalia (não tem cérebro). Com tais condições, com poucos minutos após o parto, o neném morre. Será que é justo com ele, com tua esposa e com você mesmo aguardarem nove meses sabendo o que vai acontecer logo após o nascimento? Não é isso também uma tortura psicológica? Toda vez que vocês olharem aquela barrigona, no que vão pensar?

3)      Estupro
Certa garota de 12 anos sai da escola e pega o caminho de casa. Em um determinado momento, é abordada por um desconhecido que a domina e a estupra. Por causa disso, ela fica grávida. Qual será o sentimento que ela terá ao olhar o bebê? Parte daquele estupro sempre estará ali. Mesmo que tenha condições para bancar a criança, será que é justo a garota perder a vida dela por causa de um ato irresponsável e cruel de outra pessoa? O que fazer? Dar para adoção, e correr o risco neném crescer marginalizado ou abortar?

Nós já lemos várias histórias parecidas nos jornais. Logo, não são situações hipotéticas  vindas  de uma mente perversa. É muito fácil falarmos um monte de coisa moralista até o dia que nos encontramos tendo que tomar decisões do tipo. Não seria melhor descriminalizar o aborto sem banalizá-lo? Criar uma lei que enquadre os casos que podem e os que não podem? Dar condições humanas para uma interrupção menos traumática? Dar hospitais limpos, remédios, acompanhamento psicológico para as mães que passaram pelo procedimento abortivo? Claro, tudo isso sob forte fiscalização.

É isso. Espero que o texto tenha servido para uma breve reflexão. Afinal, o que é amar o próximo? E quem é o nosso próximo? Os já nascidos ou os que estão para nascer? Bem, até hoje não consegui chegar a uma conclusão sobre isso. Espero que minhas dúvidas  sejam as de vocês, e, juntos, cheguemos a alguma conclusão. Se é que existe...

4 comentários:

Isabela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isabela disse...

Que bom que meus argumentos foram válidos. Ainda estou em processo de construção de um texto cujo título é Lei do Aborto X Aborto, pois muitas pessoas não sabem a diferença. Adorei o texto, você escreve muito bem. Espero que ainda discurse sobre essa temática. Beijos =*

Cris disse...

Pensando politicamente no assunto: antes de qualquer decisão de legalizar ou discriminalizar o aborto, outras áreas da sociedade deveriam ser fortalecidas. Tipo: dar mais segurança no emprego para mulher, mais assistência durante a gravidez (obstetra e psicólogo, por exemplo), mais creches para a mulher poder deixar o filho em um lugar seguro e ir trabalhar, mais conscientização e prevenção (camisinha E anticoncepcional, por exemplo)... criar vários bons abrigos que não sejam apenas depósitos de crianças, desburocratizar e tirar o preconceito da sociedade em adotar...
talvez se houvesse um suporte maior à mulher e à família, a discussão do aborto seria secundária e, quem sabe, um dia, desnecessária.

Cris disse...

ah, e com relação aos bebês que nascem sem o cérebro... já ouvi vários relatos de pessoas que não abortaram com o seguinte argumento: um minuto com o meu filho nos braços seria melhor do que a vida inteira sem ter conhecido ele. Você não vai ver ele crescer, mas vai aproveitar o máximo de tempo que puder com ele (vi uma reportagem de um menino que viveu dois anos) e quando ele for embora, restarão os bons momentos que tiveram com ele, e não a lembrança de um aborto, lembrança do que poderia ter sido. Mas só quem passa por isso pode explicar o sentimento mesmo.